''DARK ROMANCES'' ESTÃO INDO LONGE DEMAIS...
ANTES DE TUDO
antes de tudo
Este post é meramente minha opinião com base nas leituras que tenho encontrado tanto no Kindle, quando no Wattpad e publicações impressas. Mas o principal motivador para essa postagem que está gelando há anos no meu arquivo é a possível publicação de um livro que (aparentemente) romantiza abuso infantil. Eu já venho me preocupando com a facilidade de obter livros com temáticas ''dark'' quando se é menor de idade, mas esse tipo de publicações recente me deixou ainda mais angustiada.
Esse post é apenas para gerar debate e não censurar a quem escreve ou lê sendo maior de idade e equilibrado. Se você é menor de idade e lê ou escreve algo nesse tema, esse post é um aviso para você. Se você é maior de idade e lê/escreve esses livros, convido a pensar comigo sobre os pontos que vou mostrar. A ideia não é mandar em seu gosto ou conteúdo, mas pensar em nos responsabilizar com o que estamos colocando no mundo sem muita fiscalização... e responsabilidade.
UMA BREVE HISTÓRIA DO DARK ROMANCE
Muitas pessoas hoje em dia justificam a existência de algumas tramas com ''ah, mas é dark romance'', só que como o dark romance surgiu? Ele justifica mesmo qualquer tipo de enredo?
Não há exatamente um linha que demarque onde os livros começaram a ser chamados de ''dark'', mas o gótico e o romance trágico vieram ao gosto do público com a história real de Abelardo e Heloise, e se estabeleceu na literatura com ''O Morro dos Ventos Uivantes'' e ''Os sofrimentos do Jovem Wether''.
Ambos os livros colocam seus protagonistas em ambientes que os impedem de ficarem juntos, sendo até mesmo tóxico no primeiro caso e terminam de forma trágica. Só que a relação entre os apaixonados não é a parte dark das tramas. Heathcliff não destrói Catherine, mas sim quem o impediu de ficar com ela.
Werther não destrói Charlotte, apenas a ele mesmo por não aguentar sustentar um amor tão forte que não poderia se concretizar. Com isso, mais autores foram se aprofundando em temáticas tristes e amores com finais trágicos. Ao longo dos anos, os leitores foram querendo finais mais leves, apesar de ainda gostarem do ambiente angustiante.
Então chegaram os livros com tramas tabu da época, mas tendo finais mais esperançosos, mesclados com as leituras leves de finais felizes, mas com alguns desafios aos costumes da época. Já na nossa época chegamos aos temas mais pesados e fetichizad0s, onde os leitores queriam personagens que lidassem com perigos e tristezas da vida real, mas ainda terminassem juntos. Temos como exemplo a ótima série ''Na companhia de assassinos'', que tem como casal principal uma traf1cada e um assass1no de aluguel onde apesar apesar das circunstâncias, há confiança e liberdade.
UM FENÔMENO
Só que tivemos o fenômeno Crepúsculo no meio disso e como Stephenie Meyer era de uma religião que não via com bons olhos o envolvimento sexual antes do casamento nem a vulgarização disso, os leitores não tiveram vislumbres descritos da lua de mel de Edward e Bella.
Isso gerou uma alvoroço em fanfics onde qualquer pessoa conseguia depositar nos personagens seus próprios fetiches, um deles o BDSM. O exemplo mais bem sucedido é, claro, Cinquenta tons de cinza.
Com a boa receptividade do público a um casal onde o homem dominador e claramente cheio de problemas psicológicos e uma mocinha submissa aliados a muitas cenas hot, o mercado viu uma mina de ouro na época da libertação feminina. E de muitas formas, isso foi positivo para as mulheres. Sexo deixou de ser um tabu e passou a ser discutido de forma saudável por muitos grupos.
CHEGANDO AO PONTO
O problema é que esses temas não ficaram entre os adultos e não só entre os fetiches saudáveis. Após Crepúsculo e 50 Tons, as plataformas de leitura online ficaram mais famosas e mais diversificadas. Qualquer pessoa conseguia publicar algo e conseguir uma legião de leitores. Isso deu margem para aparecer todo tipo possível de fantasias, umas mais aceitáveis que outras. Mas elas não incomodariam tanto (afinal cada um se excita e aceita o que o agrada) se alguns deles deles não tivessem mais fãs menores de idade do que o público correto para a história - e outro grupo que passaram a achar que o ''Dark Romance'' justifica normalizar e romantizar crimes.
Posso exemplificar essa diferença: Há relações sem toxicidade entre o casal, apesar de estarem dentro de ambientes problemáticos e criminosos. Há livros com tabus normais da nossa sociedade, mas bem escritos e com personagens maiores de idade que podem por si mesmas e dando aviso de conteúdo.
Mas aí vamos chegamos em livros que são bem escritos, com autoras talentosas, mas utilizam tabus complicados e consentimento duvidoso, com protagonistas menores de idade e interesse amoroso em posição de poder. Mas esses ainda não são os exemplos realmente preocupantes. Tem alguns que apesar de avisar os gatilhos e ter público majoritariamente maior de idade, utiliza personagens menores de idade em situações de crime.
E vários deles estão fazendo cada vez mais e pior. Estão utilizando o gênero para romantizar estupro, sequestro, violência doméstica e outros crimes. Usam da classificação ''dark'' para se blindar de críticas. E esses livros estão sendo distribuídos facilmente a menores de idade através das plataformas de ebooks e, com o sucesso de publicações impressas, são vendidos nas prateleiras da frente em livrarias famosas, sem controle de quem está comprando e sem fiscalização do teor dos textos e do que eles acabam normalizando.
É aí que eu fico preocupada de verdade. Já vi algumas meninas em resenhas de canais literários dizer terem parado em fóruns duvidosos pela curiosidade gerada com a trama dos livros.
Fóruns onde se expuseram a predadores ou foram incentivadas a entrar em contato com fetich3s que jamais saberiam que existem sem esse incentivo. O que acontece com as menores de idade expostas a isso? Se os responsáveis não sabem, quem vai promover segurança a elas, com quem vão conversar para explicar sobre esses temas e protegê-las do tipo de histeria e problemas psicológicos que vêm com a exposição inadequada e precoce?
E é isso que me faz achar que o uso do termo ‘’Dark Romance’’ está indo longe demais. Colocar uma protagonista menor de idade para descobrir um ''fetiche'' em abuso ou ainda tornar apelativo e romântico uma situação complicadíssimo que beira o crime, usando um par romântico em situação de poder (como tio, professor e chefe) ou normalizar situações em que a mulher perde totalmente o controle sobre a própria vida e fica satisfeita com uma vida de ser bibelô de crimin0s0s. Além de tudo, deixar esse tipo de conteúdo ser de fácil acesso a absolutamente qualquer pessoa não tem como dar certo.
Existem pessoas que estão se expondo exclusivamente a esse tipo de leitura e, infelizmente, tem livro que não consegue se diferenciar de um vídeo de sites adultos: já li alguns em que são apenas 3 páginas de ''apresentação'' da história até que o primeiro hot aconteça e a partir daí é nisso que a ''relação'' do casal se baseia, geralmente permeada com fetich3s estranhos e situações limite. Enfim: a literatura precisa sim ser provocadora, mas não ao ponto de trazer uma discussão de ser NORMAL um crime... ainda mais com crianças.
ENFIM...
Você gosta desse gênero e acha que não tem nada de mais? Considera chatice quando alguém problematiza o tema? Ou também acha que está havendo um exagero? Acha que precisa de regulação ao acesso e conteúdo desses livros?
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